
Mark Jarzombek é professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, onde leciona desde 1995. Ele é especialista em história e teoria da arquitetura.
Mark Jarzombek, em “Digital Stockholm Syndrome in the Post-Ontological Age”, oferece uma exploração instigante sobre a transformação da nossa experiência de “Ser” na era digital. O livro investiga como a proliferação de dados e a onipresença de algoritmos redefinem a identidade, a sociabilidade e até mesmo a nossa percepção da realidade. Jarzombek argumenta que não estamos simplesmente usando a tecnologia; estamos sendo reestruturados por ela, levando a uma forma de “Síndrome de Estocolmo Digital” onde nos apegamos e participamos de sistemas que nos controlam sutilmente. A obra é parte da série “Forerunners: Ideas First” da University of Minnesota Press, que busca “desencadear novas pesquisas” com “obras digitais inovadoras” e “literatura cinzenta” que reflete “pensamento intenso, mudança e especulação”.
Capítulo 1: Introduction
Este capítulo introduz a tese central de Jarzombek: a necessidade de atualizar a discussão sobre a ontologia, que agora está intrinsecamente ligada à esfera algorítmica. Ele argumenta que a noção moderna de um “Self” estável e unificado, enraizada na filosofia iluminista de Kant e levada ao extremo por Heidegger, é cada vez mais uma “artifício”. O autor propõe que, no lugar do que acreditávamos ou consumíamos, agora somos determinados pelo que ele chama de “exaustão ôntica” — o rastro de dados que geramos constante e frequentemente de forma inconsciente. Essa “exaustão” não se dissipa como a fumaça de um carro, mas é meticulosamente coletada, processada e revendida, tornando-se o “novo oxigênio” do mundo contemporâneo. Jarzombek ressalta que essa “condição circulatória” recente exige uma completa reavaliação da base filosófica e antropológica de nossa ontologia, sem a lente do vitimismo ou da oportunidade.
Ponto central: A era digital reconfigurou fundamentalmente a noção de “Self”, transformando-nos em produtores constantes de “exaustão ôntica” que molda nossa existência de maneiras invisíveis e onipresentes.
Exemplo marcante: A metáfora do “data exhaust” como o “novo oxigênio” ilustra de forma contundente a dependência e a submissão da existência humana aos sistemas de dados, onde a produção e manutenção dessa “substância” é uma “empresa global/humana”.
Conexão com ExtraLibris: A discussão sobre a “exaustão ôntica” e a redefinição do Self na era digital valida o papel da ExtraLibris como um espaço de “curadoria figital” que não apenas organiza informações, mas também oferece ferramentas para a “reflexão crítica” sobre a produção e consumo de dados. A plataforma pode, por exemplo, propor painéis de leitura ou funcionalidades que incentivem os usuários a questionar a origem e o propósito das “recomendações” algorítmicas, promovendo uma maior consciência sobre a própria “pegada digital” e oferecendo um “refúgio” para a contemplação e o autoquestionamento em um mundo de constante “ativação” e “rastreamento”.
Capítulo 2: Being-Global
Neste capítulo, Jarzombek diferencia o conceito de “global” do de “Being-Global”. Enquanto “global” remete ao movimento físico e geográfico, “Being-Global” descreve a experiência do “Eu” tornado global por uma “universo de firmwares, softwares, trackwares, ransomwares, trialwares, malwares, piratewares e sharewares anonimamente implementados”. Essa nova forma de Ser não se limita a possuir dispositivos digitais, mas é moldada pelos “satélites pairando sobre o planeta”, que nos tornam globais. Ele argumenta que essa nova ontologia é distinta do “Ser-no-Mundo” clássico (Platão, Buda), modernista (Hegel, Nietzsche, Heidegger) ou do ciborgue performativo dos anos 90. A filosofia, historicamente, tentou moldar o Ser, mas agora o Ser está em constante “movimento” e “longe de buscar libertação”. A relação entre “Ser” e “Global” é apresentada como uma “relação antônima”, onde um compensa o outro, como os polos de uma bateria. O autor descreve a onipresença de “algoritmos assombradores e rodopiantes de corporações, nações, polícia, hackers e pior” que nos acompanham em nossas “grandes jornadas digitais”. Além disso, ele afirma que no mundo do “Being-Global”, o monoteísmo está “morto”, e os novos deuses são entidades como Google, NSA, Baidu, HSBC, Kmart, ExxonMobil, entre outros, que são “conhecidos, mas remotos, reais, mas incorpóreos, acessíveis e ainda assim abstratos”.
Ponto central: O “Being-Global” é uma nova ontologia que emerge da interconexão algorítmica e da ubiquidade dos dados, transformando o “Eu” em uma entidade constantemente rastreada e definida por softwares e sistemas, onde as grandes corporações atuam como novas “deidades”.
Exemplo marcante: A descrição da onipresença de “firmwares, softwares, trackwares” que tornam o “Eu” global, e a personificação de corporações como Google e NSA como novos “deuses” que “pairam sobre o planeta”, ilustra a natureza intrusiva e controladora dessa nova realidade.
Conexão com ExtraLibris: O conceito de “Being-Global” e a ideia de que somos constantemente “rastreados” e “definidos” por algoritmos reforçam a missão da ExtraLibris de proporcionar um espaço de “autonomia curatorial”. Ao invés de apenas consumir conteúdo, a plataforma pode empoderar os participantes a compreenderem e, talvez, até a “renegociarem” sua relação com essas “deidades digitais”. Isso pode se manifestar em recursos que visualizam os dados que um usuário gera ao interagir com a plataforma, ou em um “modo crítico” que desvela as lógicas algorítmicas por trás das sugestões de leitura, incentivando uma postura mais consciente e menos passiva em relação à “exaustão ôntica”. Além disso, a ExtraLibris pode promover discussões sobre a “civilianização” da tecnologia e a militarização do capitalismo, temas abordados no capítulo 2 das anotações.
Capítulo 3: Post-Ontological
Jarzombek critica o termo “globalização” como amorfo e ideologicamente saturado, preferindo focar no surgimento do “Eu” globalizado por volta de 2005, após duas décadas de “aquecimento” impulsionadas pela civilianização, desregulamentação e explosão populacional. Ele apresenta uma cronologia que conecta a desregulamentação de indústrias (companhias aéreas, bancos) com o boom populacional e a proliferação de tecnologias digitais (Internet, GPS, mídias sociais). O autor argumenta que a desregulamentação não eliminou a regulação, mas a transformou: o “humano recém-regulado” existe em um “equilíbrio osmótico” entre o que o sistema “vê” (dados) e o que o humano “produz” (informação ôntica). O sistema parece “livre”, atraente para o senso de si e a ilusão de oportunidade, mas, na verdade, “amarra cordas” ao capital e ao complexo militar-industrial. O “Ser-Global” vive com um novo entendimento do capitalismo, onde a “militarização do capitalismo” repassa os custos e o tormento aos usuários. O custo de produzir, explorar, proteger e roubar dados é o “custo de Ser-Global”. O sistema é projetado para manter os dados e as pessoas em constante movimento. A ideia de um mundo global como abstração é “absurda”, sendo uma entidade viva, composta por “microrragmentos ontológicos” mobilizados e rastreáveis. Quanto mais “viajamos” (mesmo digitalmente, como no Google Earth), mais “quente” o sistema se torna, gerando dados sobre nossas interações.
Ponto central: A era pós-ontológica é caracterizada pela militarização do capitalismo de dados, onde a desregulamentação deu lugar a uma nova forma de controle baseada na produção incessante e na vigilância da “exaustão ôntica” dos indivíduos, resultando em um “Being-Global” aprisionado em um sistema aparentemente livre, mas intrinsecamente ligado ao complexo militar-industrial.
Exemplo marcante: A afirmação de que a desregulamentação “não significou o fim da regulação, mas sim a necessidade de regular de uma forma totalmente diferente”, e a imagem do “custo de produzir, explorar, proteger e roubar dados” como o “custo de Ser-Global”, ilustram a transformação do controle em um sistema que se alimenta da nossa própria existência digital.
Conexão com ExtraLibris: Este capítulo ressalta a importância de a ExtraLibris ser uma plataforma que não se limita a “coletar” dados dos seus usuários, mas que os “empodera” a entender como sua “exaustão ôntica” é gerada e utilizada. Ao invés de uma interface “livre” que oculta as amarras do capitalismo de dados, a ExtraLibris pode incorporar elementos de transparência sobre as práticas de coleta e uso de dados, oferecendo aos participantes a opção de controlar sua pegada digital. Isso pode se manifestar em um “termômetro de exaustão ôntica” ou em relatórios personalizados sobre seus próprios dados de interação, incentivando uma “alfabetização digital” que vai além do uso básico da tecnologia.
Capítulo 4: Onto-Modeling
Neste capítulo, Jarzombek discute como nossos “elementos ontológicos” – os “onto-bits” – coalescem em algo chamado “dados”, que só é útil na forma de “excedente”. Ele apresenta a Segunda Lei da Termodinâmica Pós-Ontológica: “Dados” = Excedente de Dados > Processamento de Dados. Essa incongruência entre excedente e processo não é uma falha de design, mas um requisito para produzir o “atrito necessário” que mantém o pós-ontológico unido. O capitalismo contemporâneo sofre da “Síndrome da Ansiedade por Déficit de Dados”, que impulsiona a contínua “produção de excedente”. Os dados são incessantemente “aparados, suavizados, filtrados e Winsorizados”, e a incerteza dos dados é uma “realidade da vida”, intrínseca ao ser humano. O autor compara o mundo moderno a um raio-X que apaga a superfície do corpo, enquanto o “Being-Global” vive em um mundo de “ir/radiação”, onde órgãos internos foram substituídos por “órgãos de proximidade” (titânio, vidro, chips, borracha) que produzem e magnificam nossa “exaustão ôntica”. A computação, em sua essência, envolve um “segredo analítico” que nenhuma análise externa ou interna pode explicar. Os algoritmos nos “fatiam” em categorias digeríveis, comercializáveis, governáveis e hackeáveis, e a nossa percepção do “Eu” é moldada por essas métricas. A “humanização dos dados” é a última fase do desenvolvimento pós-ontológico, onde até mesmo dados não utilizados se tornam valiosos. O antropocentrismo está “acabado” , e a “antroalgoritmologia” reconhece que o humano e seus “significadores computacionais” estão em pé de igualdade.
Ponto central: A era pós-ontológica é definida pela incessante produção de “excedente de dados” a partir da “exaustão ôntica” humana, onde os algoritmos “fatiam” o “Eu” em categorias gerenciáveis, tornando o humano um “derivado de dados” e a incerteza dos dados um elemento inerente à existência.
Exemplo marcante: A Segunda Lei da Termodinâmica Pós-Ontológica (“Dados” = Excedente de Dados > Processamento de Dados) sintetiza a lógica de produção e consumo de dados que define a ontologia contemporânea, onde a sobrecarga de informações é um requisito de design. A transformação do humano em “derivado de dados, embalado, formatado e protegido para o mercado global de informação” é igualmente impactante.
Conexão com ExtraLibris: Este capítulo sublinha a necessidade da ExtraLibris de ir além de uma simples “plataforma de informações” e se posicionar como um “laboratório ôntico” em si, que estuda e reflete sobre a interação humana com os dados. A plataforma pode, por exemplo, oferecer ferramentas para “mapear” os próprios “onto-bits” dos participantes, criando visualizações personalizadas de suas atividades de leitura e curadoria. Isso poderia levar a uma “antroalgoritmologia” prática, onde os usuários compreendem como seus hábitos culturais são “fatiados” e “modelados”, promovendo um engajamento mais consciente e crítico com a informação, em vez de uma aceitação passiva da sua “humanização de dados”.
Capítulo 5: Onto-Graphies
Jarzombek aborda a emergência de uma nova “cognição” e uma linguagem que opera através da “linguagem hospedeira”, entrelaçando-se para familiarizar/desfamiliarizar um mundo de operações misteriosas. Ele aponta para a proliferação de metáforas, duplos sentidos, eufemismos e neologismos que definem nossa vida cotidiana e nossa interação com o digital, transformando-nos em “Meta-onto-phors”. O autor discute a mudança de termos como “link” (de “corrente” a “proteção da nossa nova pós-ontologia”) e a evolução da linguagem auditiva, com notificações, vibrações e alarmes que nos acompanham. A “privacidade”, assim como “segurança”, é tratada como um “eufemismo poético”, uma “caixa” a ser clicada na tela, que significa, na verdade, “em breve não será mais privada”. A linguagem contemporânea, impulsionada pela lógica algorítmica, perdeu sua “clareza semiótica” e a “ênfase paternalista no logos”. A “era do dicionário está acabada”. Essa “linguificação” e “poetificação” da linguagem não são apenas jargões, mas a própria “estrutura” sobre a qual nossa nova “consciência estendida” é construída, servindo como uma “isca” e um “aviso velado” que desvia nosso olhar das tarefas em mãos.
Ponto central: A era pós-ontológica é caracterizada por uma nova linguagem, as “onto-grafias”, que, através de metáforas, eufemismos e neologismos, se entrelaça na nossa comunicação diária e desestabiliza conceitos tradicionais como privacidade e a própria clareza semiótica, refletindo a intrincada relação entre o humano e o algoritmo.
Exemplo marcante: A afirmação de que a palavra “privacidade” é um “eufemismo poético” que significa “em breve não será mais privada” e que “a era do dicionário está acabada”, evidencia a reconfiguração radical da linguagem e dos seus significados na era digital.
Conexão com ExtraLibris: Este capítulo oferece um convite à ExtraLibris para explorar a “linguagem” de sua própria interface e curadoria. Em vez de simplesmente adotar termos padronizados, a plataforma poderia engajar-se em uma “metáfora crítica” para descrever suas funcionalidades, desafiando a “lógica da linguagem hospedeira” imposta pelas grandes plataformas digitais. Por exemplo, em vez de “recomendações”, poderia usar “sugestões de serendipidade” ou “pontes para o desconhecido”. Isso alinhado ao “Ponto Central” deste capítulo, reforça a ideia de que a ExtraLibris pode ser um “laboratório de linguagem”, onde a “curadoria figital” é um ato de “onto-grafia”, mapeando as relações entre o “Ser” e o “Global” de maneiras mais conscientes e críticas.
Capítulo 6: Onto-Activations
Jarzombek contrasta as civilizações agrícolas e industriais, que valorizavam o sedentarismo e a previsibilidade para fins de governança e controle, com o mundo pós-ontológico. Ele argumenta que, embora os estados-nação ainda busquem controlar a “exaustão ôntica”, as democracias, ligadas a corporações globalizadas, preferem um “mundo mais humano” com escolhas que “prendem o humano na dobra de sua humanidade”, gerando “calor no sistema” e alimentando os “deuses consumidores de dados”. O “humano” não é mais o consumidor de dados, mas o “provedor”, sendo “redomesticado” nesse aspecto. A “experiência” se torna um “refúgio” aprimorado e multiplicado, mas também inautêntico no sentido tradicional, abrindo-se à exploração. A distinção entre “Humano” e “Inumano” se torna obsoleta, e o autor propõe o termo “(in)humano” para descrever a entidade que é “empurrada aos seus limites corpóreos/sensoriais/morais/físicos/psicológicos/políticos/sociais/ambientais/sexuais/bacteriológicos/globais”. Somos escravos da “criação de excedentes de dados”, que nos “liberta” em uma “narrativa” mas nos aprisiona em uma “imprevisibilidade estrutural”. Nossa relação com os “deuses” é mantida por meio da produção de dados, que se tornam “drogas” para essas entidades.
Ponto central: A era pós-ontológica reposiciona o “humano” como um “(in)humano” produtor e provedor de dados, cujo corpo e experiências são “reengenheirados” para alimentar os “deuses consumidores de dados”, que prosperam na “imprevisibilidade estrutural” e no “excedente de dados” gerado por nossa “exaustão ôntica”.
Exemplo marcante: A analogia entre a escravidão à produção de excedentes alimentares em civilizações agrícolas e a atual escravidão à produção de excedentes de dados, ambos justificados por narrativas de “libertação” ou “divindade”, destaca a continuidade de formas de exploração em novas roupagens.
Conexão com ExtraLibris: A discussão sobre a “redomesticação” do humano como “provedor de dados” e a emergência do conceito de “(in)humano” ressalta a importância de a ExtraLibris ir além de uma plataforma de consumo e se tornar um “laboratório” de auto-reflexão sobre a nossa própria “ativação” no mundo digital. A plataforma pode, por exemplo, oferecer ferramentas que permitam aos participantes “visualizar” e “compreender” como suas interações de leitura e curadoria se transformam em “onto-bits” e como esses “onto-bits” contribuem para o “excedente de dados”. Isso pode ser feito através de um “painel de impacto de dados” personalizado ou de “desafios de curadoria” que estimulem a criação de dados conscientes, em vez de uma produção passiva.
Capítulo 7: Onto-Social
Jarzombek inicia o capítulo revisitando o conceito de sociabilidade de Kant, que via a comunicação interpessoal como fundamental para a pessoa e a filosofia. No entanto, no mundo “Being-Global”, a “conexão” é o primeiro princípio, com a expectativa de que o “(in)humano” produza “ópio para as divindades viciadas” através de um “estado alucinógeno chamado conectividade”. A filosofia tradicional não se aplica, pois o “Ser-Global” vive em um mundo “psicossocial/estético-virtual/contratual-antropológico/posterritorial/dado-epistemológico/farmacêutico-corrigido/com-playlist-aprimorada”. A pureza do pensamento é menos importante que a “performance do Social”. O “Social” pós-ontológico não se organiza em torno de um “Eu problemático”, mas sim onde o “Eu problemático” faz parte do “Social problemático”. O “Being-Global” não é o mundo dos ricos ou da elite intelectual; é projetado para ser “acessível” em todo o mundo, sendo a “acessibilidade o portal para o templo dos deuses e os campos de papoulas do Ser”. A liberdade individual não é cedida para a liberdade de outros, mas é “produzida” ao se “vincular às realidades do capitalismo de dados (militarizado)”. O autor afirma que “toda liberdade é monitorada e pixelizada como dados”. A “impermeabilidade” do sujeito e do “reino deificado dos dados” se misturam, criando uma “tortura suave”. O “Being-Global” prospera no contexto de nações-estado ameaçadas (migrações, terrorismo, pobreza, etc.), com o apoio dos “deuses viciados em dados”.
Ponto central: O “Social” pós-ontológico é um espaço onde a sociabilidade humana é reconfigurada e mercantilizada, impulsionada pela conectividade digital, transformando a liberdade individual em uma performance de dados vinculada ao capitalismo militarizado, sob a influência das “deidades” digitais.
Exemplo marcante: A afirmação de que “toda liberdade é monitorada e pixelizada como dados” e a ideia de que a “acessibilidade é o portal para o templo dos deuses e os campos de papoulas do Ser” ilustram a intersecção da liberdade, do controle e da mercantilização da existência na era digital.
Conexão com ExtraLibris: Este capítulo oferece à ExtraLibris a oportunidade de questionar a própria natureza da “conectividade” em sua plataforma. Em vez de apenas facilitar a interação, a ExtraLibris pode projetar funcionalidades que promovam uma “conectividade consciente”, onde os participantes são incentivados a refletir sobre como suas interações contribuem para a “exaustão ôntica” e para o “capitalismo de dados”. A plataforma pode, por exemplo, criar “zonas de desconexão figital” ou “desafios de privacidade” que exploram as nuances da “permeabilidade” e “impermeabilidade” do self digital. Isso se alinha com a proposta de que a ExtraLibris pode ser um espaço de “resistência simbólica” contra a tecnificação das relações culturais, ao invés de meramente replicá-las.
Capítulo 8: Onto-Paranoia
Jarzombek argumenta que no mundo “Being-Global”, a transgressão é inerente ao sistema, sendo a vigilância uma característica intrínseca do “(in)humano”, que é simultaneamente “vigilado e vigilante”. Ele apresenta a Terceira Lei da Termodinâmica Pós-Ontológica: “Quanto mais os deuses manipuladores de dados capitalizam na ordem, mais desordem é propositalmente/’acidentalmente’ produzida”. Essa circularidade cria uma “tortura perpétua de baixa intensidade do corpo social-civilizacional”, que o autor chama de “onto-tortura”. A indústria de segurança de dados, por exemplo, “produz insegurança em doses certas” para se perpetuar, e a “onto-tortura” é a única forma de localizar nossos corpos no “reino hiperoxigenado dos algoritmos”. A paranoia, antes considerada uma doença, é agora “normalizada” e se torna o “sistema operacional” do processo biotécnico, um “vírus que vive no hospedeiro (in)humano”. A música, as “playlists” e as “favoritas” funcionam como “metamúsica”, suavizando a “crosta ontológica” e “protomilitarizando-a”. A “Síndrome de Estocolmo Digital” é ilustrada pela “visualização de dados” que nos mostra a nós mesmos, nossas políticas e nossas paixões, uma forma de “tortura suave” que nos faz aceitar a condição.
Ponto central: A era pós-ontológica é definida pela normalização da “onto-paranoia” e da “onto-tortura”, onde a produção de dados e a busca por ordem pelos “deuses” algorítmicos geram propositalmente desordem e insegurança, resultando em uma existência humana permeada pela vigilância e pela necessidade de se adaptar a essa realidade fluida e constantemente reconfigurada.
Exemplo marcante: A “Terceira Lei da Termodinâmica Pós-Ontológica” (o aumento da capitalização da ordem pelos “deuses” de dados leva à produção proposital/acidental de desordem) e a definição da “onto-tortura” como a forma de localizar nossos corpos no reino algorítmico, demonstram a natureza contraintuitiva e controladora dessa nova realidade.
Conexão com ExtraLibris: Este capítulo inspira a ExtraLibris a se posicionar como um “laboratório de cura” para a “Síndrome de Estocolmo Digital” e a “onto-paranoia”. A plataforma pode ir além da simples curadoria e oferecer um espaço para a “contemplação crítica” sobre as “ontografias” e as “onto-ativações” que moldam nossa existência. Por exemplo, a ExtraLibris pode desenvolver “jornadas de leitura” que abordem a privacidade e a vigilância, ou oferecer “exercícios de desintoxicação digital” para que os participantes possam “perceber” e “questionar” a “tortura suave” a que estão submetidos. A “curadoria figital” pode, então, se tornar um ato de “resistência ontológica”, onde o “Ser” é encorajado a “fissurar a crosta” da paranoia e a redefinir sua relação com os “deuses digitais”.
Afterword: Onto-Tecture
No posfácio, Jarzombek explora como o ambiente construído e a própria arquitetura são redefinidos na era pós-ontológica, cunhando o termo “onto-tectura”. Ele rastreia a transição da “psicologia arquitetônica” para a manipulação humana no espaço, especialmente em ambientes comerciais, onde o “comprador” se tornou um “conjunto de dados”. A arquitetura atual, em vez de criar experiências positivas, serve para “sugar informações de nós”. O autor critica a obsessão pela “inovação” e a “homogeneização das topografias urbanas” como um reflexo de uma sociedade que busca conformidade e previsibilidade para a produção de dados. A “onto-tectura” é uma “máquina de preservação” que mantém “atavismos” continuamente em jogo, onde a preservação da ontologia se torna um mecanismo primário para a produção de dados. Ele propõe “Elementos de Onto-tectura” como o “Paranoia Pod” (para vigilância/anti-vigilância), “Onto-deck” (para ancorar o Ser em ilusões de presença), “Beheard.org” (para expressar pensamentos fisicamente e digitalmente), “Onto-gorithm-screen” (para visualizar dados pessoais) e “Personalized fog device (PFG)” (para inundar servidores com dados falsos). Esses elementos são formas de navegar e resistir, ou se submeter, a essa nova realidade espacial e informacional.
Ponto central: A “onto-tectura” é a manifestação espacial da era pós-ontológica, onde o ambiente construído é projetado para se tornar um “laboratório de dados”, transformando o espaço físico em uma ferramenta de coleta, manipulação e preservação da “exaustão ôntica”, resultando em uma arquitetura que, sob o pretexto da “inovação”, reforça a conformidade e a previsibilidade.
Exemplo marcante: A lista dos “Elementos de Onto-tectura”, como o “Paranoia Pod” e o “Personalized fog device (PFG)”, demonstra de forma concreta as novas formas de interação entre o indivíduo, o espaço e os dados, revelando a materialização da “onto-paranoia” e a busca por controle e contra-controle na paisagem pós-ontológica.
Conexão com ExtraLibris: A “onto-tectura” oferece à ExtraLibris uma metáfora rica para pensar sua própria “arquitetura figital”. Em vez de se limitar a uma “máquina de curadoria”, a plataforma pode se tornar um “laboratório de onto-tectura”, onde os participantes podem “projetar” e “experimentar” diferentes formas de interação com o espaço informacional. Por exemplo, a ExtraLibris poderia criar “espaços de leitura” digitais que simulam um “Paranoia Pod” ou um “Onto-deck”, permitindo aos usuários refletir sobre a presença invisível dos dados em suas vidas. Isso reforça a ideia de que a ExtraLibris pode ser um “campo de experimentação” para a “onto-tectura”, oferecendo aos participantes a oportunidade de serem “arquitetos” de sua própria “experiência ôntica” em um mundo cada vez mais moldado por algoritmos.